Maior rigor no crédito deverá retrair o comércio
Serviço de Proteção ao Crédito - SPC | Diário do Nordeste | Negócios | CEO evento reuniu lideranças do setor, como o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, Honório Pinheiro, dentre outros FOTO: FABIANE DE PAULA
Como reflexo dos altos índices de inadimplência, as empresas deverão aumentar o rigor na concessão do crédito e isso irá impactar negativamente nas vendas do comércio, no decorrer dos próximos meses deste ano. Segmentos comerciais de móveis, eletrodomésticos e automóveis devem sofrer as maiores baixas por dependerem, principalmente, das vendas a prazo.
A previsão é do presidente do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Roque Pellizzaro Júnior, que esteve presente na abertura do I Seminário Regional de SPC's do Nordeste. O evento ocorre na sede da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza e se encerra hoje, com a proposta de aprimorar conhecimentos e técnicas dos produtos do SPC por meio de palestras.
Inadimplência
Segundo levantamento do SPC Brasil e da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), quatro em cada dez brasileiros estão com dívidas em atraso. O indicador de dívidas em atraso apresentou, em abril, um aumento de 2,83%, em relação a março, maior crescimento para o mês desde o começo da série histórica, em 2010. Entre os dois meses, cerca de 600 mil consumidores foram incluídos entre os devedores negativos.
"Em geral, o brasileiro fica inadimplente não porque ele seja um mau pagador, mas porque projeta mal o seu orçamento e qualquer desarranjo orçamentário provocado por uma doença na família, um sinistro qualquer em um veículo, na própria casa, a perda de um emprego, pode impactar bastante. Isso tem de estar previsto na hora de ele contratar novos créditos", recomenda o representante do SPC.
Mesmo com previsão de impacto negativo sobre as vendas devido ao atual quadro de inadimplência, Pellizzaro destaca que há segmentos que devem sofrer menos. "O setor de vestuário e calçados é afetado de uma maneira bem menor. E o setor de alimentação não é tão afetado nas vendas pelo crédito. É afetado, sim, pela questão inflacionária", ressalta Pellizzaro.
Regiões
Segundo ele, dentre as regiões brasileiras, o Nordeste possui a situação "menos ruim", onde a expansão de renda ainda está crescente e a demanda por alguns serviços e produtos ainda é bastante evidente. Ele ressalta que a inadimplência possui tendência de alta nos próximos meses. Apenas a partir de fevereiro e março do ano que vem o índice deve atingir estabilidade, antecedendo um possível declínio.
Ceará
De acordo com o SPC, houve aumento de 2,81% no número de inadimplentes no acumulado dos quatro primeiros meses de 2015, no Ceará. Para o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Ceará (FCDL-CE), Freitas Cordeiro, o aumento de consumidores com dívidas em atraso agrava as dificuldades pela qual o varejo cearense passa, mas não é motivo de grande preocupação, tendo em vista que é reflexo, em grande parte, dos altos custos de começo de ano com que o consumidor tem de lidar, como despesas escolares e o pagamento de impostos, como IPTU e IPVA.
"Não é nada que cause temor, e nem terror. É um estremecimento. Os nossos elementos econômicos não sinalizam para crises maiores. Existe mais um momento de ansiedade, de desconfiança, do que algo econômico mesmo", defende Cordeiro.
O presidente da FCDL-CE ressalta que embora hajam segmentos que tenham amargado queda de faturamento no primeiro quadrimestre deste ano e, especificamente, no Dia das Mães, comparando-se com iguais períodos de 2014, também existem os que estão com bons desempenhos.
"Nós tivemos alimentos, por exemplo, que tiveram resultados bons. Óticas tiveram resultados excelentes", destaca. Ele também cita que o Interior tem obtido melhor desempenho do que a Capital. "O resultado, em Russas, é 5,4% de crescimento (no Dia das Mães). O Interior está vivendo um momento de euforia. Por isso que nós não podemos colocar toda a economia no mesmo saco", finaliza.
Opinião
Juros mais altos dificultam expansão maior
Nós estamos observando uma mudança de comportamento. Tivemos uma frequência boa nas compras para o Dia das Mães, principalmente nos shoppings, inclusive com crescimento. Porém, o aumento dos juros tem penalizado qualquer crediário. A quilo que era financiado ficou um pouco mais difícil de ser vendido. E com isso, obviamente, houve muita mudança de comportamento de quem estava pensando em comprar um presente mais caro, mas passou a comprar um de menor valor e que coubesse no bolso diretamente. Tivemos um aumento de até 4% no público, mas tivemos queda de faturamento. A venda a crédito realmente caiu e estamos nos encaminhando para isso.
Severino Neto
Presidente da CDL Fortaleza
Murilo Viana
Repórter
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